quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Segredos...


Para mim, guardar segredos sempre foi uma coisa bem simples.

Quando criança gostava de saber das coisas do mundo adulto e fazia tudo que estava ao meu limitado alcance para estar por perto dos maduros. Queria ficar "por dentro" dos assuntos e acontecimentos daquele mundo tão grande e complicado. Estava sempre antenada, ligada e, mesmo, quando "eles" falavam por códigos eu entendia e experimentava com excitação e convencimento o prazer do saber das coisas.

Ficava tudo só para mim, porque não tinha para quem contar - sou filha única. Sanar qualquer dúvida,
que por acaso aparecesse, seria muito arriscado, logo desconfiariam que eu havia estado por perto e ouvido demais. Enfim gostava por gostar, por poder saborear as novidades acontecidas no universo adulto.

Houve também uma ocasião, já na fase adulta, em que me senti "meio" estimulada a ocultar um segredo. Foi um acontecimento bastante relevante e de muita gravidade, tanta seriedade que escondi na minha cabeça, tão bem escondidinhio, que já nem me lembro bem como tudo aconteceu, nem quantos anos eu tinha. Só vem à minha cabeça os sonos que perdi sem poder compartilhar, dividir e repartir com alguém.

Então é assim, desenvolvi a técnica do escutar, ouvir e arquivar. Vou armazenando tudo, tudinho mesmo no hard disk da minha vida. Não é que eu seja boazinha ou que não queira estar na roda da fofoca, nem guarde por ter me sido confiado.
A verdade é que simplesmente não aprendi nem cultivei ou desenvolvi o hábito contar o que ouço.

Vez ou outra, entra um vírus maléfico no PC da minha vida, tipo umas pessoas que têm por, mau hábito e natureza, só falar do outro e sempre mal ou aquele outro tipo que joga um verde para colher um maduro. Pois é, sou obrigada a deletá-las por algum tempo para não ser infectada pelo vírus, hora de desligar meu computador de vida, esvaziar o HD de coleta de escutas para mais tarde startar a relação de novo.

Me recolho, me encolho, entro no casulo, hiberno e escapo ilesa. Um tempo depois, que pode durar minutos, horas, dias, semanas, meses ou até mesmo anos, me recarrego, re-starto meu windows privado e pessoal e me conecto com o mundo real outra vez.

Reparo em tudo e em todos, presto atenção, principalmente, nas palavras; porém, o corpo do outro também se torna inteligível aos meus olhos e às minhas sensações. Às vezes, sinto como que eu se tivesse um terceiro olho, um olho que sente e não vê.
Vejo além do que estão me dizendo, leio as entrelinhas das mãos, bocas e trejeitos. Por isso não me sinto muito à vontade em dicutir certos assunto com qualquer pessoa. Alguns seres humanos têm a tendência de se fixarem demais no que vêem. Aparências.

Exaspero-me.

Outras criaturas tem uma inclinação a insistir, refrisar e repetir "fulano disse".
Assumem, por suas próprias contas, que entenderam, compreenderam e daí por diante lançam mão do dom da palavra para contar, recontar, comentar e até interpretar o que ouviram
Ah! Como isso me inferniza, me faz mal, me envenena, fico absolutamente intoxicada.

Sou assim, complicada nas relações. Fingir, jamais; porém, calar sempre. Lema de vida?!
NÃO!! Preceito individual, fruto da solidão.








quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Vadiagem





Sábado é assim...

Dia de vadiar, dia de vagabundagem cheio de lembranças, cheiros e sabores da noite de passada.

Despertador não toca. É dia de pacto com a moleza e a indolência... Herança de nossos antepassados indígenas.
Merecida preguiça, depois de uma semana ocupações, fadigas e aflições. É dia de levantar da cama só se a fome chamar. Mas não há pressa em sair do ninho.

Dia de abraçar, ser abraçada, de chameguinho com nosso amor, de esparramar-se e invadir, de propósito, o espaço dele, de espreguiçar-se até ouvir o "clec" da coluna.
Sábado é dia de lembrar das diabruras e malícias de ontem com ele, dar risadas do que foi e do que não foi e inspirar-se para próximo "pecado".

Quem é casado sabe muito bem do que estou falando, porque durante a semana é um "cuidar" sem fim de casa, trabalho, filhos, de tudo.
Ficamos sem tempo e, até mesmo, sem disposição e inclinação para a "transgressão", o pecado. Aí, vem o sábado com aquela carinha de safado e meio imoral, lembrar-nos que ainda estamos vivos, gostamos e queremos ser sem-vergonhas, descarados e atrevidos.

Sábado é dia de inventar e tramar. Dia de devaneios, fantasias e delírios. Que mal há nisso?
Estou planejando mais uma noite de libertinagem com meu homem. Nada com o alheio.
Só o maquinar, planejar como, quando, o que vestir, como abordar, o criar de um ambiente que proponha a devassidão, já é por si só excitante.
Então, sábado é dia de insinuações e sugestões sutís. Meu amor sabe disso, aprecia e faz-se presente.

Para a paixão, vontade, desejos e anseios não cabe a idade ou a duração da relação.
O meu romance tem 25 anos e estamos cada vez mais inseridos um no outro, respeitando nossas individualidades, limites e diferenças de densidade psicológicas; porém, estamos eternamente nos amando, nos
completando, nos desejando e, sempre, praticando a luxúria.

Sem culpas, medos ou arrependimentos.

Com carinho, intensidade, verdade e muito amor

Audácia




Conhecer pessoas faz bem ao corpo, espírito, coração e alma. É o que move a vida; encontrar, conversar, traduzir, desnudar, despojar, subsistir, conservar, permanecer, resistir, trocar e conviver com o diferente ou o igual.


Pois é, na verdade, faço alguma força para travar novos conhecimentos, mas isso me enfastia por demais... Ter que me expor a cada novo encontro, colocar outra vez minhas idéias, já tão mutantes e confusas, sobre as mesas alheias, me despir a alma para que o outro me entenda, me perceba, me compreenda e até nutra algum sentimento bom por mim. E, também, o desvendar do outro tem me exasperado e incomodado um tanto.


Deixei-me cruzar com muitas pessoas, umas me enriqueceram, outras me apoquentaram. Porém, vou sempre procurando trocar experiências de passado, presente, planejar algumas coisinhas bobas para o futuro e assim, de maneira harmoniosa e bendita, consumo meu dia-a-dia. Mas, me canso fácil de situações, de pessoas, de histórias, da mesmisse do cotidiano. Coisa minha, defeito meu, mas fazer o quê? Esta sou eu!


Fato é, que certos temas propostos vão ficando mais e mais desconectados da minha realidade, tornam-se idéias virtuais, proposições desunidas da objetividade, discursos papagaióticos, falas desorientadas, decisões mutáveis e transitórias como o vento, nada muito concreto ou palpável, sonhos e idéias de adolescentes em fase de crescimento. Tudo seria perfeito, caso eu ainda fosse aquela menininha entre 15 e 20 anos, totalmente desplugada do verdadeiro e do efetivo.


O que mais me aflige são as palavras ditas carregadas de heterogeneidade, são os atos, atitudes e resoluções desconexos, a "mistureba" que oprime qualquer ser vivente e o submerge num mar de doidices e conspirações alucinadas vindas do nada e do tudo.


Para mim, não têm aparência uniforme, são frases ditas com aparente seriedade e firmeza; porém, numa sucessão de minutos ou horas se dissipariam como vento. E isso me inquieta. Sou desassossegada por natureza...

Vou, aos poucos, tomando consciência, de que cada um tem seu próprio mundo. E cada mundo é único e intransponível, carregado de palavras e frases inocentes, sutis, elegantes mas quase sempre proferidas com imponência e ares de arrogância. A soberba do saber, do fazer, do ter e não do Ser. E esse movimento forte e giratório do mundo mói e tritura meu self. Apoquento-me, amofino-me, perturbo-me. Defeito meu, Mea culpa, mea culpa!


Cansada de gente, com saudade da MINHA gente, remoo lembranças suaves e graciosas de pessoas amadas, meu canto, meu verso, minhas solidões sazonais, minhas quietudes e inquietudes, meu exílio opcional, minhas introspecções voluntárias, meu em-torno, minhas ausências e fantasmas.


Seres, coisas, vácuos, intervalos e espaços que ainda estão por serem preenchidos.


Desapego??








Durante nossas vidas elegemos coisas e seres que nos são caros. Caros no sentido de que imaginamos que não conseguiríamos viver sem elas, apenas sobreviveríamos.

Aquele jeans que, apesar de muito gasto, veste muito bem, aquele batom, que praticamente já acabou, mas sempre encontramos, com a pontinha do dedinho mínimo, um restinho para colocar nos lábios, porque acreditamos que jamais encontraremos "aquela" cor de novo. E quem não tem uma camiseta velha, rasgada e desbotada que funciona como uma segunda pele pra dormir?!



O mundo caminha e nós com ele vamos colecionando coisas usadas e surradas, às vezes inúteis para os olhos alheios, nos apegando a bens pequeninos, antiquados, fora de moda, usadíssimos e malhados, mas que nos trazem conforto e muitas, muitas recordações de quem já fomos.

E é com um esforço sobre humano que, de vez em quando, arrumamos armários, bolsas e gavetas nos desfazendo de algumas dessas majestosas propriedades com dor de saudade. Geralmente fazemos tal arrumação em dia frios e chatos, acreditando, lá no fundo, estarmos sendo capaz de nos desfazer um pouco de nós mesmos. Provavelmente, nós é que estamos chatos e frios, mas temos que apontar alguém, que nesse caso é o tempo lá fora.

Ok. Tudo limpinho e arrumadinho; calcinhas, camisetas, vestidinhos, jeans, meias, sapatos e assim vai a nossa lista, e com ela aquela sacola velha de supermercado cheia de roupas não menos velhas, mas com nosso cheiro, nossa, história, nossa pele, com nossas lembranças boas e más. Vai tudo embora e em menos de um mês, já não nos lembramos de sequer uma daquelas pecinhas que "doamos"para alguém menos favorecido marcar uma nova história em cima das nossas próprias.

Mas a nossa coleção não acaba com um quartinho ajeitadinho, não! Temos nossos seres queridos e amados que dividem, dividiram e sempre dividirão a vida conosco. Como é que nossa cabeça funciona quando não mais os temos, seja lá porque razão. Para mim até agora funciona como dor, aflição e sofrimento, que tenho tentado desmentir com sorrisos. Mas sorrisos doloridos.

Quando se trata de seres, tudo fica diferente. O mesmo dia chato e frio nos agonia.
Mas é uma agonia forte, agonia com ânsia de morte, cheia de lembranças e cheiros, que sabemos que não vamos viver nem reviver jamais. Momentos da nossa vida que perdemos pela lei natural da vida, por opção, negligência, abdução ou descuido - mas perdemos.

Nossa vó gordinha que tinha um cheirinho bom de talco e dava aquele colinho gostoso , uma tia que morava distante e fazia biscoito de banana aos domingos, só para ter os sobrinhos por perto, nosso vô que contava histórias "do arco da velha" para você num dia chuvoso, aquele sanduiche quente de queijo que a vovó preparava para o lanche de sábado à noite e o banho de chuva com os primos escondido da vovó, é claro! ?


E nossos pais?! Quem não tem lembranças de momentos ternos e carinhosos? Chegadas e partidas de algum lugar, que nós nem sabíamos que existiam... As chegadas, claro, eram cheias de entusiasmo e amor! As despedidas tinham um gostinho um tanto quanto amargo, mas, mesmo assim, lembramos e a saudade de quem fomos aparece impiedosamente...


Recordações, lembranças todas com cheiros, rostos, gargalhadas, conversas, carinhos, abraços, beijinhos, suspiros e conversas gravadas em nós... Nunca mais!

E nosso bichinho lindo que chegou em casa com 35 dias de vida! Nem dentinhos tinha, não foi assim com você também?! Você, certamente, preparou as primeiras "pipetas"de leite.O rabinho curto que teimava em balançar, cada vez que você olhava para ela ou chegava de algum lugar. E os olhinhos?? Sempre expressando amizade, amor e lealdade. As lambidinhas, às vezes, até irritavam, mas era o jeito dela dar beijocas e dizer que amava você.

Nunca mais aquele focinho...

Nunca mais tanta coisa boa, tanta alegria, nunca mais...

É.... Por mais que queiramos perpetuar quem fomos, quem nos cercou, amou, jamais conseguiremos, pois o mundo caminha e com ele nós também.
Que nós nos perpetuemos sendo aquelas vovós cheirosinhas, aqueles vovôs com um baú de estorinhas, aqueles pais zelosos e amorosos, aquelas tias, aqueles primos e que sejamos capazes de abanar nossos rabinhos na chegada de um amigo.

Que nos façamos lembrados, apesar do mundo um dia caminhar sem nossa presença.






EGO

Memórias, lembranças, experiências, recordações, reminiscências, seja lá o nome que você queria dar. Hoje é dia de falar de momentos que impregnaram cada uma das suas moléculas, seu DNA.


Sentamos , à uma mesa de um bar cheia ou vazia, num sofá confortável cercados de amigos e/ou familiares e damos início a uma conversa que, na verdade, só interessa a nós mesmos.
Às vezes, por falta da audiência mencionada, sentamo-nos “numa mesa de bar”, rodeados de cervejas e pessoas que mal conhecemos e pressionamos a tecla de rewind de nossas vidas.


Inicia-se aí um contar de histórias, uma espécie de série de contos privados que temos a necessidade de dividir. Verdadeiros, mentirosos, aumentados ou diminuidos, tudo vai depender da imagem que queremos passar, do retrato que desejamos deixar colado no álbum dos nossos ouvintes e da máscara estamos usando neste instante.


Fatos, acontecimentos, casos, enfim momentos que fizeram nossa história a cada dia vivido. Coisas pequenas ou grandes, boas ou ruins, relevantes ou não. Arquivados por situações, circunstâncias e
condições de como vieram ao nosso encontro. Também as pessoas que passam por nossas vidas têm um cantinho notável no nosso acervo sentimental. Estão catalogadas, arquivadas por ações e atitudes. Existem as que deixaram cicatrizes, vestígios de feridas já curadas e aquelas que nos marcaram pela bondade, abdicação e pureza no coração. Todas, todas sem exceção, com certeza, têm um espaço reservado no nosso inventário pessoal e nem tão secreto.


São normalmente textos sem testemunhas, onde as pessoas que poderiam atestar como verdadeiros, não estão presentes no momento e, como temos memória curta, nossos ouvintes jamais irão verificar a veracidade destes capítulos. Por vezes, nem se pode chamar a juízo para autenticidade algumas pessoas, porque já não caminham nessa dimensão.


Mas na verdade não importa, porque damos mesmo muito pouca importância ao que é falado. Estamos sempre esperando nossa vez de falar. Para abrirmos nosso baú , vomitando desejos realizados ou não, despejando traumas, lamentando nossas dores, mágoas, derrotas, sofrimentos, sempre maiores que do outro, chorando desamores, cantando nossos amores, alegrias, prazeres, contentamentos, vitórias e vantagens.


Entretanto, mesmo sem a audiência estar, verdadeiramente, “ligada” no nosso sarau histórico pessoal, é sempre muito bom ter uma história de vida. Além disso, enquanto contamos estamos cercados de pessoas e este estar cercado nos faz humanos e naquele momento, somos o pretenso centro de todas as atenções. Ego massageado

Minhas Botas


Hoje acordei com uma disposição mediana, então achei que seria saudável trazer minhas botas à vida de novo, afinal o frio tá chegando e nem sempre acordo tão bem. Todo ano é assim, guarda-se a roupa de inverno no verão e guarda-se a roupa de verão no inverno. Não é brincadeira, não. Mas é muito bom, porque você faz um "puta"exercício, já que tudo fica "malocado"nuns lugares meio bizarros, atafulhado em coisas não menos bizarras. Tem uns sacos que, depois de cheios de coisas, tira-se o ar com o aspirador de pó, pra ficarem bem fininhos e serem empilhados um em cima do outro, evitando assim desperdício de espaço nos cantinhos. Comprei umas caixas enormes, de plástico e com zipper, nem parecem caixas, mas enfim, são chamadas de caixas, que ficam enfiadas embaixo das camas. Aqui sofre-se, seriamente, de falta de espaço, então esses sacos e essas caixas ficam abarrotadas de tudo que não se está usando no dia a dia e que não cabe nem caberia em qualquer outro lugar.



Fica tudo tão amassado, amafagafado, amontoado que antes de reviver não só minha famosas botas, mas também meus cachecóis, casacos, gorros, luvas e um troço chamado termal , que serve como barreira contra o vento e o frio, sou obrigada a enfileirar toda esta parafernália sob uma nesga de sol que entra, timidamente, pela janela da sala para tirar aquele cheiro de "guardado", tipo de armário de vovó. Lembra-se de quando éramos crianças e que tínhamos umas tias bem velhinhas, que costumavam dizer que iam "Botar as roupas para tomar ar"? É isso que, mais ou menos, acontece.



Não, não preciso lavar, porque antes da aventura de guardar, passei pela desventura de lavar todo o arsenal térmico no início da primavera. Cada pecinha foi cuidadosamente lavada nas máquinas comunitárias, mas sobre esse maquinário falo em outra ocasião. Então tá tudo limpinho, é só mesmo colocar a bugigangada pra fora por um ou dois dias. Tudo vai depender de quanto sol terei disponível pra mim. Depois vem a parte que eu chamo de dolorosa, que é organizar esse montão de roupa pesada, que ficou escondido nos sacos e caixas, durante os meses menos ruins, em gavetinhas minúsculas e apertadinhas. É um empurra-empurra de roupa que chega a fazer barulho dentro do closet. Já as botas, essas sim, precisam de uma boa engraxada. Verdade! Passo graxa e dou um lustre nas "bichinhas", porque ficaram cinco meses desmaiadas nos tais sacos sugados pelo aspirador de pó. Precisam, desesperadamente, de algo que as façam voltar a vida.



Porém, o que me faz uma confusão mental é vestir-me para ir comprar um simples pãozinho numa manhã de domingo. Calma, eu explico. Dentro de casa é sempre quentinho, a temperatura é agradável. Olho lá pra fora, da janela e vejo o sol brilhando, ora sol brilhando é sinonimo de tempo gostoso e aprazível, para pessoas e lugares normais. Por aqui isso não é bem assim.



Tem todo um ritual. Depois do banho, ainda enrolada na toalha, ligo o computador. Óbvio que já ignorei o tal sol que fazia lá fora, procuro o site http://www.accuweather.com,/ digito o cep de onde moro, espero a resposta, não demora muito e recebo a informação via internet que a temperatura local é de 8 graus, mas sente-se como 4 devido ao baita vento constante. Entendo, e me conscientizo, que faz frio. Não basta só entender.



O pãozinho de domingo transforma-se numa batalha de ponderações e considerações. Durante alguns minutos me pergunto se, realmente, vale a pena comer o tal pãozinho, porque eu sei que será um evento. Mas como "sou brasileira e nunca desisto". Rumo ao evento. Calcinha, sutiã, termal(aquela coisa que mencionei acima, lembra?) camiseta de manga comprida, sweater de lã, jeans, meias, cachecol, luvas, gorro(pra orelha não congelar) sobretudo e, principalmente, minhas botas. Simples, né?!


Tudo isso passou, como um flash, pela minha cabeça enquanto eu ressuscitava dois ou três pares de botas aqui nesta terra não tão mais distante. Um suceder de acontecimentos aborrecidos, inoportunos e cansativos sempre que o outono começa a dar as caras. Com um vento que assobia em nossos ouvidos dia após dia, não nos deixando esquecer que ainda vem pela frente Halloween, Veterans Day, Thanksgiving Day, Natal, Ano Novo, Martin Luther King Day, President's Day, Valentine's Day, Páscoa e Memorial Day até que as botas sejam guardadas de novo.



Divaguei, viajei, filosofei, discuti e discorri. Tudo por eu ter acordado com a bendita inclinação para fazer o bem às minha botas....





Contratempos


A primeira vez que estive com ela foi em 2000. Ela ainda não tinha sofrido o acidente de avião que, com toda razão, mexeu muito com ela e todos os que estavam e estão no seu entorno.
Encantei-me com ela. Cada cantinho seu ficou armazenado na minha mente. Curti cada dia que passamos juntas. Desfrutei de cada coisa que ela me proporcionou. Eu estava num momento de muito amor e felicidade.

Depois encontrei com ela em 2005. Achei-a sem graça e até meio desengonçada. Mas talvez não tenha sido culpa dela. Eu não estava num bom momento da vida. Porém, pensando bem e reparando nela com mais calma e resignação, não posso negar que é linda. Com uma maquiagem quase sempre impecável. Mesmo depois do acidente, que a deixou meio desfigurada, ela está sempre elegante e charmosa. E também é bem limpinha. Como se não bastassem todos os adjetivos já mencionados, é muito organizada e super-arrumada. Tudo seu é colocado, milimetricamente, nos lugares certos. Mas não é calorosa, nem com quem chega nem com quem parte.

É fisicamente bastante saudável, quase nunca fica doente, mas se ficar, com a "grana" que ela tem, pode visitar os melhores médicos. Entretanto, creio que, mentalmente, ela sofre de alguma doença, tipo esquizofrenia ou toque, sei lá. Mas acho que deve ser uma coisa bem deprimente.

Veste-se bem, mas com uma certa arrogância. Tem o hábito de usar chapéus, sempre com uma desculpa. No verão para se proteger do sol, na primavera para combinar com os vestidos floridos que flutuam pelas ruas e no outono/inverno para dar graça ao tempo sem graça que teima em esfriar. Anda sempre na última moda. Também, não é vantagem, o lançamento da moda é sempre em função dela.

Sapatos?! Nem me fale desta peça do vestuário! São tantos que mal posso enumerá-los. Lembro-me de apenas algumas marcas porque são famosas: Gucci, Prada, Franco Sarto, Stuart Weitzman. E já vi até mesmo sandálias brasileiras Havaianas. Mas não tem ginga no andar.
Pelo contrário, segue com passos sempre apressados, não importa aonde vá. Alguns de seus amigos são meio esquisitinhos, apressadinhos que só eles! Imagine, que se dão ao desfrute de ultrapassar pessoas pelas calçadas das ruas. Atenção, eu disse CALÇADAS, donde se conclui que estão andando a pé. E me pergunto para onde estariam indo? Por que estão sempre atrasados? Será que o despertador não tocou? Talvez um ente querido esteja em apuros, né?

Mas esses meninos e meninas correm, viu?!

Bom, voltando a ela. Tem a mania estranha de propagar aos quatro cantos do mundo que não dorme. Não sei se é de todo mentira, mas posso afirmar que já a vi cochilando algumas vezes. Um conhecido meu ficou tão incomodado com esta estória, que chegou a tirar uma foto dela, mais ou menos à 1 da manhã, quando retornava da "night", completamente adormecida. Posso dizer, pela foto que vi, que ela estava em sono profundo. Logo, acredito que ela falta com a verdade de quando em quando.

Quem a conhece superficialmente, acredita que ela é mega, ultra-educada, cheia de desculpes e por favores. Por tudo e por nada "manda" uma dessas duas palavras! Mas não é assim que ela funciona, na verdade. É até bem mal-educadinha. Mas vai-se levando. Fazer o que se temos que conviver, né?

Embora eu saiba, do fundo do meu coração, que um dia vou ter saudades dela, não quero ser amiga de cama e mesa. Somos muito diferentes e ela é a responsável por alguns contratempos que estão
acontecendo na minha vida. Tenho consciência de que ela não tem culpa, mas mesmo assim, ponho a culpa nela de propósito, só para magoá-la. Sou má.

Por vezes, ela sorri e se mostra amigável. Se eu estou de bem com a vida, retribuo, caso contrário, finjo que não vi. Isso é feio, eu sei.

Ah !!!New York, New York, você poderia ter aparecido na minha vida uns dez anos atrás, teriamos sido tão amigas....





ADRIANA

Não é a sua história, não é a minha, não é sequer uma história; porém um conto sem maiores ou menores pretensões, de uma pessoa que engatinha nos meandros da literatura. Uma pessoa que tem a cabeça cheia de idéias confusas e pensamentos atordoados, embora ações firmes e coerentes.
Essa pessoa não sofreu na infância, o que já afastaria muitos leitores, nem padeceu com a adolescência, como era de se prever. Apenas amadureceu mais depressa que as outras meninas de sua idade e, por opção, pulou a fase mais chata e confusa de nossas vidas!

Então se você leitor, deseja reviver o sabor da sua infância, afaste-se; se deseja encontrar nuances e vivências de adolescentes, afaste-se. Apenas aproveite, desfrute e, se possível, apaixone-se. Meu objetivo não é trazer ninguém de volta ao passado nem desvendar futuros.

Vou chama-lá de Adriana. Por que Adriana? Porque um dia, nem me lembro quando, nem tampouco acredito que tenha acontecido de verdade, mas acho que ouvir mamãe mencionar que se eu não tivesse o nome que tenho, me chamaria Adriana.

Passei muito tempo pensando como teria sido minha vida se eu tivesse me chamado Adriana. Acredito que nossos nomes podem influenciar alguns pontos de nossa personalidade e até nas nossas verdades. Mas, para ser sincera, esta fase já passou há muito tempo. E fui, gradativamente, me acostumando com meu nome e até considero muito bem escolhido e bastante interessante. Meio que combina comigo.

Adriana gosta de quem é. Traz em si muitas memórias que a fizeram o que é hoje em dia. Cada acontecimento que viveu, cada pessoa que conheceu e cada lugar por onde passou marcaram sua visão, alma e coração, então ela é meio que um misto de muitas coisas, pessoas e lugares.
E quem não o é?

Procurou retirar o melhor em tudo que fui encontrando no seu caminho, coisa que fez muito prazerosamente; porém, como humana que é, nem sempre conseguiu. Então ela tem consciência de que carrega alguns senões esquisitos e até muito mal intencionados. Mas nada que a faça perder o sono, pois, com certa maestria, vai administrando “aquele” diabinho interno que costuma habitar os corpos dos seres viventes.
E, quando ela faz um balanço interno de como/e o que pensa, fala e age, ainda está com créditos.

Porém, ela se descobriu uma pessoa um tanto simbiótica no dia em que se pegou reproduzindo palavras, tim tim por tim tim, que havia ouvido de uma amiga distante. A princípio ficou surpresa consigo mesma, mas depois achou até interessante. Que mal havia em ter gostado do que foi dito por alguém, e mais, que mal havia em repetir, conscientemente, o pensamento de uma amiga?

E, de pouco a pouco, ela foi prestando mais e mais atenção nas palavras ditas, nas músicas cantadas, nos livros lidos, nas paisagens vistas e nas experiências vividas. Para ela não importava se eram boas ou más, eram momentos que ela já não podia desprezar. Tudo era armazenado no baú da sua consciência e, de quando em quando, utilizados para se expressar.

Porém, também de quando em quando, ela parava para perceber se o que pensava, falava ou fazia era realmente seu ou se estavam vindo desse tal baú. Às vezes, tinha a sensação de estar sentindo o que uns e outros sentiram ou disseram que sentiram e isso a deixava um pouco confusa. Até meio desconfiada de si própria, duvidando de seus conceitos e verdades.

Quem seria, na verdade, essa tal de Adriana?Ela sabia que precisava organizar, arrumar o baú por arquivos, uma espécie de folder de computador: “Isso é intrínseco, inerente do meu EU ou já é parte da minha coletânea de vida?”
Ela já não consegue decifrar o que realmente é dela e o que ela surrupiou, embora de forma limpa e atenta, do mundo.

Os dias iam se passando com uma velocidade tão assustadora que nunca havia tempo para esta tal arrumação, e ela continuava a tomar como suas verdades todas as coisas faladas, ouvidas, lidas e vistas. Entretanto, sua cabeça lhe pregou uma peça. Certo dia, depois de horas de trabalho resolveu fazer nada no sofá da sala e, com a tecnologia ao seu alcance, utilizou-se do controle remoto e trocou a TV pelo iPod.

Apesar de ser o seu próprio iPod, levou um susto ao ouvir Raul Seixas. Nem lembrava mais quando foi que colocara ele ali dentro, mas se permitiu, como era de costume, desfrutar de cada palavra que ele ia dizendo ao cantar e encantar-se, como se encantara no passado. Foi, como sempre, absorvendo cada letra, sílaba, palavra e verso das músicas, até chegar em METAMORFOSE AMBULANTE.

Parou, repetiu a música, uma duas, três, quatro vezes. Tomou um café, cantalorando a melodia. Refletiu.
E se deu conta, quase como que se decifrando, que ela era também meio metamórfica, já que ela não era só ela, era uma massa formada por tudo, todos e ela mesma.

No princípio, o ritual de tomada de consciência de quem e como era deixou-a desapontada, ofendida e até mesmo muito irritada consigo mesma, mas, gradualmente, aquele ritual foi se suavizando, tomando conta da sala, da cozinha, do quarto, da casa e dela mesma, e foi ficando mais confortável dentro de si mesma, aceitando cada pedacinho de seus pesamentos e atitudes. Ela relaxou.

Trouxe à tona de seu consciente tudo que estava bem guardado no cofre do inconsciente. Relaxou mais uma vez.
Voltou à posição de fazer nada. Quebrou sua rotina e se deu o direito de ser muitos, muitas em uma só criatura.

Ela continua a ser ela, confusa e atordoada, cheia de idéias de todos e tudo; porém, com atitudes muito suaves e não tão coerentes; já que, além de simbiótica, também é uma metamorfose ambulante.

IN-QUIETUDES


Desde menina, escrevo quando o “bicho pega”. Mas, logo depois, rasgo, queimo, jogo fora.Agora, decidi dividir minhas anotações com o mundo. Não me importando se o mundo vai lê-las ou não. Como este espaço é público, acredito que alguns amigos, conhecidos e meus poucos inimigos lerão minhas estórias.
Devo adverti-los, entretanto, que são apenas desabafos, para manter-me atenta à vida e ao mundo. Nada de especial ou muito relevante. Porém, espero poder distrair àqueles que tiverem a paciência de ler.

Poderia falar sozinha, pintar, dançar, cantar ou até mesmo representar, mas resolvi escrever.
Colocar para fora as palavras que sobram na minha cabeça.
Escrever é a minha forma de estar viva, de não morrer, de não me entregar.

Resistirei.

Sobreviverei.

Por 23 anos, fui filha e procurei fazê-lo com amor, dedicação, tentando deixar meus pais sempre felizes e orgulhosos de mim.
Em alguns momentos, fiz o possível para parecer invisível, a fim de evitar levar problemas para meus amadinhos. Eles já tinham os deles.
Acredito ter desempenhado com ternura e elegância tal tarefa.

Certo dia conheci minha alma gêmea. Uma pessoa que só me trouxe alegrias, prazeres e é o co-autor da minha mais linda e prima obra. Minha filha.
Então, nos últimos 22 anos, tenho-me ocupado, com muito amor e carinho, da maior e melhor tarefa que um ser humano pode ter o prazer e alegria de ocupar-se. Sou mãe!

Os anos têm sido grandes amigos e bastante complacentes. Meus pais estão uns senhores muito fofos. Entraram na terceira idade com dignidade e MUITA saúde. Eu e minha alma gêmea estamos envelhecendo sem temores. Muito pelo contrário, damos gargalhadas de cada cabelo branco que aparece. Estamos curtindo.

E minha filha. Ah... minha filha é linda. Um rosto esculpido à mão e amor, uma gargalhada gostosa. Grande pessoa.Caráter irretocável . Cresceu!
Tarefa cumprida!

A vida nos pregou uma pequena pecinha. Estamos separadas, de corpos, por mais ou menos 12 horas de avião! Que peça, hein?

Separadas de corpos, porque de coração, cabeça e espírito, estamos muito mais juntas do que nunca. Unidas além da eternidade.