quarta-feira, 16 de julho de 2008

Feminilidade








Rute é uma balzaquiana, mulher bem resolvida, muito articulada e suave.

Hoje,
depois de um extenuante dia no trabalho, está entre amigos mais uma vez. Mas, agora para comemorar a compra do seu dois quartos no Leblon. Enfim saiu. Após uma estressante batalha de negociações com o proprietário.

Está no auge da sua beleza e profissão. Muito trabalho, muita determinação, muita diversão, muitos restaurantes, muitas boates, muitos amigos, muitos bate-papos, muitas viagens, muitos sapatos, bolsas, roupas, perfumes e jóias. Ela não admite, nem tem tempo para as derrotas, mesquinharias e dramas.


Dedicada e cândida no seu ofício, indispensável para a família, amiga das amigas, voraz consumidora, ávida pela moda e beleza, fiel ao estilo de vida que sonhou quando menina. Absolutamente livre e soberana no seu modo de viver. É uma mulher ambiciosa, preserva sua aparência social, nada religiosa e cheia de caprichos.

Não tem bolsas, tem Louis Vuitton; não usa óculos, usa Gucci; não se maquia, aplica Lancôme; não se veste, traja-se "by Nicole Miller". Mima-se, paparica-se, dá-se o direito de adquirir bens, os mais supérfluos possíveis, mas considerados por ela básicos para sobreviver.

A luz incomoda. Café faz parte da sua rotina. Sapatos podem até machucar, mas tirá-los jamais. Necessaire é artigo de primeira necessidade. Acender o fogão dói, ligar a máquina de lavar causa tédio e fazer a cama quando acorda é inoportuno. Sutil e delicada, fútil jamais.

Amantes e amores ela os teve e ainda os tem. Uns arrasadores, arrebatadores e selvagens, outros brandos, atenciosos e meigos. Porém, devido à sua instabilidade, inconstância, indecisão e vulnerabilidade, não tem sido capaz de cuidar, alimentar e sustentar seus relacionamentos.
Ela quer uma pessoa que "caiba nos sonhos dela", um homem irreal, alguém que seja capaz de ser muitos em um só; um companheiro, um cavalheiro, um Don Juan, um go-go boy, um amigo, um pai, um irmão, um músico, um cantor, um dançarino.

Ela sonha em montar o seu próprio homem, como se pudesse pegar um "tiquinho"de cada um de seus amores e ir juntando pedacinho por pedacinho até chegar ao seu par ideal, Seu Príncipe.

Não é possivel ter tudo, não é possível ser tudo, simplesmente não é possível ...

O improvável é fato, o impossível é dado.

Corram, procurem por ela, chamem seu nome bem alto e digam à ela que ainda é possível ser feliz, antes que o tempo, que é impiedoso, corroa a beleza e leveza que ela traz em si!

Apaguem as luzes, abram os portões, deixem-na entrar, tragam as frutas, neguem café e convoquem-na para a felicidade.

E, depois que ela acordar, por favor mandem me chamar.








quinta-feira, 10 de julho de 2008

A Dama








Vez ou outra eu ouvia falar dela.
Eram quase sempre notícias estapafúrdias e desconectadas da realidade. Na minha ignorância, entendia aquela mulher como uma pessoa lúdica e/ou extravagante, aquele tipo de pessoa que quando chega, CHEGA.

Tudo o que chegava aos meus ouvidos vinha de um grupo seleto de pessoas muito jovens
, o que me fazia crer que algo estava um "tiquinho" aumentado ou mesmo fantasiado, fruto da juventude e entusiasmo dos narradores.
Enquanto relatavam as experiências dela, as mais improváveis e inadmissíveis para qualquer ser humano normal, eu via brilho, assombro, espanto e até uma pontinha de admiração em seus olhares.

É chegado o dia de conhecê-la !

Muito estranha a criatura. Em alguns minutos enumerou mais de vinte ou trinta casos tristes de sua vida, lastimou-se do ex-marido, relatou segredos familiares, esvaziou, sem dó nem piedade, seu movimento existencial em cima de mim. Porém, ao mesmo tempo que parecia sacrificada e imolada, vangloriou-se de feitos que, para meus sentidos auditivos e sensitivos, soavam como aberrações, tolices ou eventos contrários a razão.

Surpreendi-me!

Com o passar de nossa ligação, foi ficando muito claro, para mim, a doença da coitada. Uma doença que jamais teria cura, uma doença que abateu toda a família . Uma doença que ela ia transmitindo, em doses homeopáticas, ao marido, ex-marido, amigos, amantes, filhos e todos mais que, porventura, cruzassem seu caminho.

A doença do vazio interno e interior. A doença da própria pena, da chantagem emocional, que, inevitavelmente, tem como foco secundário a solidão solitária, só e sozinha! Essa pobre mulher habita-se num deserto descampado e despovoado.

Penalizei-me!

A senhora deste conto escolheu viver numa terra utópica, criada por ela mesma com, é claro, brutais e segundas intenções
de confundir, sem muito esforço, a individualidade privada de todos os membros de sua quimérica confraria.
É uma personagem em sua própria vida, é uma caricatura de um saltimbanco, é uma dama burlesca.


Vaga só e única, com seu ponto central - seu umbigo,resultado do corte do cordão umbilical.
Resiste e sobrevive afastada da convivência social real, sem nunca ter compreendido o poético e o intuitivo.

Pobre atriz, sustenta a maquiagem, os cabelos e as roupas que a compõem.
Porém. pouco produtiva, estéril de sentimentos, nenhum filho, nem o livro, nem a árvore.










segunda-feira, 7 de julho de 2008

MULHER













É, realmente, ela não tem cura!

É assim mesmo, emoção do corpo, da alma e do espírito. Uma totalidade de sentimentos, uns lógicos e outros nem tanto. Mas sempre sentimentos, na maioria dos seu íntimos momentos, bons e brandos.

Não acredita nos quadrados, sempre nos círculos, ciclos, alterações, sucessões, períodos repetitivos de vidas presentes, passadas e futuras.
Ela é pura intuição, energia. Ela é totalidade de VIDA, ida, Davi, vai, diva, via, dia e tantas quantas outras
palavras for possível se formar com as letras de VIDA.

Ela o vivo, o vermelho, o sol, o fogo, a ação, o movimento, a roda, o diurno e o solar.
Nada passa desapercebido pelos olhos, atentos, desta mulher.
Guerreira e medrosa, exemplo; porém, cheia de erros, harmonica e irregular, estruturada e ainda em processo. Símbólica e metafórica, ela entende o giro da renovação e do triângulo.

E ela renasce, renova-se, ressurge, ressuscita, revela-se, recomeça e se repete a cada dia quando o sol brota lá no oriente de sua essência animal.

Acomodada, resignada e adaptada à sua ressurreição diária,
equilibra seus potenciais sem receios de censuras... Hospeda-se em si mesma, vai de encontro ao silêncio e à serenidade e, então assossega-se. Encontra-se em estado de estar só e plena. Sente a volúpia e o divertimento do antagonismo e da rivalidade de sensações em seu Self.

Ela é o agente psicótico de cada um de nós, de peito aberto ela se expõe, se abre para o outro, se dá sem medos e, ainda assim, ousa querer ser única e ímpar. Alcança proposta do seu âmago inicial de patida.

É capaz de ser impulsiva e comedida ao mesmo tempo. Porém, pede licença para seu ser primeiro para olhar, sentir, cheirar e tocar todo e qualquer estímulo
fragmentado vindo do mundo exterior. Só depois de minucioso exame ela projeta o inteiro. E apodera-se do caos e o reorganiza. Pelo simples prazer de ir de encontro do desestruturado.
Nem poderosa nem pequenina. Apenas o mito MULHER.


Ela é da cor da alma, da libido e do coração. Ela é a sua imagem de mutação, imagem dos que querem a liberdade de amar e o prazer de serem SERES.
Ela constrói e demoli conceitos e (pré) conceitos todos os dias.

Por fim, ela se mostra como a dinâmica das relações de todos nós com o grande universo que nos sustenta vivos e unidos, apesar das distâncias físicas, quânticas e matemáticas.