quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ela


Fera enjaulada, fera aprisionada, fera encarcerada, fera enclausurada, fera acuada
É assim que se sente quando é contida, ela é gado em pastagem, ela é solta.
É de um só enquanto pode sustentar-se em suas grandes asas pelos céus da cidade,
É de muitos quando tem a sensação de voar em bando reprimida,
É de todos no instante que prevê seu calabouço, ela águia.

Ela é dispersa, volumosa e volátil, ela é ar, gás, energia, vibração,
Tudo dela é em curta metragem, rápido, ligeiro, ela é trovão e chuva de verão.
Dispensa as overdoses, agradece os discusrsos, não gosta de palestras,
Nada pode demorar mais que o tempo de um raio rasgando o espaço, ela é velocidade.

É angustia da sentença, é de amores passageiros, é de amantes grosseiros,
Selvagem por natureza, não se importa com seu cio, foi talhada na luxúria,
De prazer em prazer vai moldando sua carne fresca e fundindo-se em outros,
É pura, singela, natural e simples; porém, agressiva, áspera e adversa.

Desconstruiu seus castelos de areia e montou sua choupana de amores,
Ventou em pradarias , cantou em guetos, berrou aos quarto cantos do mundo,
Choveu em caatingas, respingou-se em areais e queimos-se nos cerrados,
Desativou bombas amorosas, torpedeou pares e alavancou catapultas de vida.

Prefere vinho porque tem a cor de sangue, bebe champanhe pelas bolinhas,
Pise firme e sem dó, pisa no chão, pisa na grama e esmaga quem passar na sua frente,
Dura e acre, formou-se da vinagre azeda e levedou-se em diferentes massas,
Doce e meiga, criou-se para a festa, para crença, para missa e para o circo.

Ela encanta enquanto canta, ela dorme enquanto chora, ela falece enquanto perece,
Ela é universal, própria, não tem donos, coleiras ou amarras, ela é de todos,
Ela é só e ela é plena, ela é esperanto, ela é mundo,
Ela abrange tudo, ela vem de mim e de você. Ela somos nós.