terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tharcilla




Tharcilla estava completamente absorta, perdida entre sua agulhas longas e pontiagudas de tricô, envolta em suas lãs, linhas e fios de almíscar e absinto. 
Era praticamente sua última laçada, enfiou com destreza a agulha na lã lilás, cor de flores de alfazema e no instante de puxá-la, foi  abduzida do seu mundo de paz e cores para o mundo real pelo toque de seu celular.
Assustou-se  por um momento; porém o som suave e sereno, como tudo em sua vida, fez com que voltasse ao seu ritmo terno e doce em segundos. 
Na telinha do telefone vinha um aviso de mensagem nova e fresquinha. 
Ela sorriu.

Ele nunca trazia mensagens de dor.
Então, prontamente, Tharcilla se prepara beber cada palavra escrita como se um néctar fora. As palavrinhas miúdas saltitavam e seus olhos brilhantes e atentos a tudo e a todos iniciaram a leitura.
Ela leu e releu por algumas vezes, nada novo...
O comunicado já havia sido feito  por gestos e atitudes, ela já havia compreendido a mensagem, muito, muito antes de ser escrita.

...nenhuma reação, nenhum sentimento, nenhum assombro.
Era só a mesmice já sabida, revelada e agora assumida.
Ela achou sublime, digno e bonito. 



Seu mundo continua  com cor, suas agulhas ainda ferem seus dedos, suas lãs, linhas e fios ainda se enroscam e se embolam.
Tharcilla olhou para o nada , respirou fundo, suspirou e não se abalou.
Enfiou-se novamente em confeccionar seu agasalho de vida.