quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Minhas Botas


Hoje acordei com uma disposição mediana, então achei que seria saudável trazer minhas botas à vida de novo, afinal o frio tá chegando e nem sempre acordo tão bem. Todo ano é assim, guarda-se a roupa de inverno no verão e guarda-se a roupa de verão no inverno. Não é brincadeira, não. Mas é muito bom, porque você faz um "puta"exercício, já que tudo fica "malocado"nuns lugares meio bizarros, atafulhado em coisas não menos bizarras. Tem uns sacos que, depois de cheios de coisas, tira-se o ar com o aspirador de pó, pra ficarem bem fininhos e serem empilhados um em cima do outro, evitando assim desperdício de espaço nos cantinhos. Comprei umas caixas enormes, de plástico e com zipper, nem parecem caixas, mas enfim, são chamadas de caixas, que ficam enfiadas embaixo das camas. Aqui sofre-se, seriamente, de falta de espaço, então esses sacos e essas caixas ficam abarrotadas de tudo que não se está usando no dia a dia e que não cabe nem caberia em qualquer outro lugar.



Fica tudo tão amassado, amafagafado, amontoado que antes de reviver não só minha famosas botas, mas também meus cachecóis, casacos, gorros, luvas e um troço chamado termal , que serve como barreira contra o vento e o frio, sou obrigada a enfileirar toda esta parafernália sob uma nesga de sol que entra, timidamente, pela janela da sala para tirar aquele cheiro de "guardado", tipo de armário de vovó. Lembra-se de quando éramos crianças e que tínhamos umas tias bem velhinhas, que costumavam dizer que iam "Botar as roupas para tomar ar"? É isso que, mais ou menos, acontece.



Não, não preciso lavar, porque antes da aventura de guardar, passei pela desventura de lavar todo o arsenal térmico no início da primavera. Cada pecinha foi cuidadosamente lavada nas máquinas comunitárias, mas sobre esse maquinário falo em outra ocasião. Então tá tudo limpinho, é só mesmo colocar a bugigangada pra fora por um ou dois dias. Tudo vai depender de quanto sol terei disponível pra mim. Depois vem a parte que eu chamo de dolorosa, que é organizar esse montão de roupa pesada, que ficou escondido nos sacos e caixas, durante os meses menos ruins, em gavetinhas minúsculas e apertadinhas. É um empurra-empurra de roupa que chega a fazer barulho dentro do closet. Já as botas, essas sim, precisam de uma boa engraxada. Verdade! Passo graxa e dou um lustre nas "bichinhas", porque ficaram cinco meses desmaiadas nos tais sacos sugados pelo aspirador de pó. Precisam, desesperadamente, de algo que as façam voltar a vida.



Porém, o que me faz uma confusão mental é vestir-me para ir comprar um simples pãozinho numa manhã de domingo. Calma, eu explico. Dentro de casa é sempre quentinho, a temperatura é agradável. Olho lá pra fora, da janela e vejo o sol brilhando, ora sol brilhando é sinonimo de tempo gostoso e aprazível, para pessoas e lugares normais. Por aqui isso não é bem assim.



Tem todo um ritual. Depois do banho, ainda enrolada na toalha, ligo o computador. Óbvio que já ignorei o tal sol que fazia lá fora, procuro o site http://www.accuweather.com,/ digito o cep de onde moro, espero a resposta, não demora muito e recebo a informação via internet que a temperatura local é de 8 graus, mas sente-se como 4 devido ao baita vento constante. Entendo, e me conscientizo, que faz frio. Não basta só entender.



O pãozinho de domingo transforma-se numa batalha de ponderações e considerações. Durante alguns minutos me pergunto se, realmente, vale a pena comer o tal pãozinho, porque eu sei que será um evento. Mas como "sou brasileira e nunca desisto". Rumo ao evento. Calcinha, sutiã, termal(aquela coisa que mencionei acima, lembra?) camiseta de manga comprida, sweater de lã, jeans, meias, cachecol, luvas, gorro(pra orelha não congelar) sobretudo e, principalmente, minhas botas. Simples, né?!


Tudo isso passou, como um flash, pela minha cabeça enquanto eu ressuscitava dois ou três pares de botas aqui nesta terra não tão mais distante. Um suceder de acontecimentos aborrecidos, inoportunos e cansativos sempre que o outono começa a dar as caras. Com um vento que assobia em nossos ouvidos dia após dia, não nos deixando esquecer que ainda vem pela frente Halloween, Veterans Day, Thanksgiving Day, Natal, Ano Novo, Martin Luther King Day, President's Day, Valentine's Day, Páscoa e Memorial Day até que as botas sejam guardadas de novo.



Divaguei, viajei, filosofei, discuti e discorri. Tudo por eu ter acordado com a bendita inclinação para fazer o bem às minha botas....





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