quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Segredos...


Para mim, guardar segredos sempre foi uma coisa bem simples.

Quando criança gostava de saber das coisas do mundo adulto e fazia tudo que estava ao meu limitado alcance para estar por perto dos maduros. Queria ficar "por dentro" dos assuntos e acontecimentos daquele mundo tão grande e complicado. Estava sempre antenada, ligada e, mesmo, quando "eles" falavam por códigos eu entendia e experimentava com excitação e convencimento o prazer do saber das coisas.

Ficava tudo só para mim, porque não tinha para quem contar - sou filha única. Sanar qualquer dúvida,
que por acaso aparecesse, seria muito arriscado, logo desconfiariam que eu havia estado por perto e ouvido demais. Enfim gostava por gostar, por poder saborear as novidades acontecidas no universo adulto.

Houve também uma ocasião, já na fase adulta, em que me senti "meio" estimulada a ocultar um segredo. Foi um acontecimento bastante relevante e de muita gravidade, tanta seriedade que escondi na minha cabeça, tão bem escondidinhio, que já nem me lembro bem como tudo aconteceu, nem quantos anos eu tinha. Só vem à minha cabeça os sonos que perdi sem poder compartilhar, dividir e repartir com alguém.

Então é assim, desenvolvi a técnica do escutar, ouvir e arquivar. Vou armazenando tudo, tudinho mesmo no hard disk da minha vida. Não é que eu seja boazinha ou que não queira estar na roda da fofoca, nem guarde por ter me sido confiado.
A verdade é que simplesmente não aprendi nem cultivei ou desenvolvi o hábito contar o que ouço.

Vez ou outra, entra um vírus maléfico no PC da minha vida, tipo umas pessoas que têm por, mau hábito e natureza, só falar do outro e sempre mal ou aquele outro tipo que joga um verde para colher um maduro. Pois é, sou obrigada a deletá-las por algum tempo para não ser infectada pelo vírus, hora de desligar meu computador de vida, esvaziar o HD de coleta de escutas para mais tarde startar a relação de novo.

Me recolho, me encolho, entro no casulo, hiberno e escapo ilesa. Um tempo depois, que pode durar minutos, horas, dias, semanas, meses ou até mesmo anos, me recarrego, re-starto meu windows privado e pessoal e me conecto com o mundo real outra vez.

Reparo em tudo e em todos, presto atenção, principalmente, nas palavras; porém, o corpo do outro também se torna inteligível aos meus olhos e às minhas sensações. Às vezes, sinto como que eu se tivesse um terceiro olho, um olho que sente e não vê.
Vejo além do que estão me dizendo, leio as entrelinhas das mãos, bocas e trejeitos. Por isso não me sinto muito à vontade em dicutir certos assunto com qualquer pessoa. Alguns seres humanos têm a tendência de se fixarem demais no que vêem. Aparências.

Exaspero-me.

Outras criaturas tem uma inclinação a insistir, refrisar e repetir "fulano disse".
Assumem, por suas próprias contas, que entenderam, compreenderam e daí por diante lançam mão do dom da palavra para contar, recontar, comentar e até interpretar o que ouviram
Ah! Como isso me inferniza, me faz mal, me envenena, fico absolutamente intoxicada.

Sou assim, complicada nas relações. Fingir, jamais; porém, calar sempre. Lema de vida?!
NÃO!! Preceito individual, fruto da solidão.








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