
Em processo, metamorfoseando, em transição, em transformação, oprimida pelas mudanças, me modificando, me alterando, agarrada ao jeans com tênis, me confundo. Meu encontro comigo vai acontecendo, lento, sútil, consiso, indizível e encantador.
Minhas mãos gelam, minha cabeça roda, meu corpo treme. Confrontar-me com ela é, escandalosamente, atemorizante. Quem é essa mulher que me assunta, me apavora, me amedronta com suas novas e inusitadas manias. Com suas vontades e demandas que se confrontam com as minhas? Quem é ela que me aparece de quando em quando, me levando para dimensões e chãos jamais pisados por meus pés quentes e afogados no lodo do passado? Capaz de elevar minha auto-estima, ela vai me sofisticando, provocando minha elegância e vaidade.
Ociosamente e preguiçosamente, vou me deixando levar por ela. Cada dia uma lição nova. Ela é muito mais inteligente e bonita do que eu, sabe o quer e, definitivamente, tem uma auto-confiança de dar inveja. Tenho ciúmes dela, cobiço seu poder e lugar.
A intimidade dela com ela mesma é nojenta e me provoca repulsa. Porém, ela vai se apoderando do meu corpo, de mim por inteira, e eu não sou mais eu.
Debilitada e sem forças para lutar contra ela vou permitindo, orgulhosamente, uma mulher renovada tomar consistência da minha parte visível aos olhos da humanidade. Nervosamente e atenta aprecio cada detalhe das mudanças e restaurações que ela tem feito em mim. Ancora no meu porto uma pessoa linda, vaidosa e exigente, que desenvolveu sua maneira própria e peculiar de ser. Desguarnecida, desarmada e com alguma petulância autorizo o desembarque.
A mandala da vida passa por mim lentamente e vai refletindo essa pessoa que eu sempre quis ser. Embora saindo, completamente, da minha zona de conforto e segurança, vou arriscando um brilho aqui um salto mais alto ali. Uma novo rímel, uma nova base, uma sombra arrojada. Vou me imputando obrigações de carinho e beleza de mim para mim mesma. Vou aprendendo pequenos truques de moda e beleza e me apegando à certas coisinhas desnecessárias, mas obrigatórias e indispensáveis para esse novo rumo que ela me fez seguir.
Sem perder minha essência, meu conteúdo, meu interior, minha substância concreta, me aventuro seriamente nessa experiência de cuidar-me, amar-me e enfeitar-me. Para ninguém, para mim. Quero a singularidade, a complexidade, a bravura, o ultrapassar.
Quero ser única, complicada, valente, transpor a tangente, morar e re-existir em mim.
Ela, que já me habitava, me fez provar o belo, desafiou possibilidades ocultas e capacidades latentes em mim e esse conjunto de normas inovadoras e petulantes agradaram-me os cinco sentidos.
Resplandeço e saliento-me. Estou em evidência.
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