terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sem Máscaras

Descaracterizou-se rapidamente para não ser reconhecida,
Lavou a alma e o espírito com a água benta - era santa,
Os pés alternavam-se pisando no chão macio do tapete,
Revitalizada e desmascarada, apareceu e não sorriu,


O jogo já tinha começado há muitos meses atrás
Ela já estava no segundo tempo e bastante aquecida,
E ele, descaradamente, usava o uniforme o time adversário,
Afogada em sonhos de vitória, ela percebeu-se vazia - era puta,

Enfeitou-se com pérolas, argolas, plumas e penas coloridas,
Porém, estava em preto e branco por dentro - fingia muito,
Sem medo ou pudor, sorria sempre e chorava pouco,
Pintava os olhos e passava baton -  era atriz,


Enfiou-se no quarto e representou a cena,
Sua performace sempre fora muito convincente, 
A dele também, com mentiras e fingimentos,
Eles pagavam um preço alto para manter a ordem,

Bebiam a bebida doce, surtavam em momentos mútuos,
Dançavam a dança do nada e viviam a vida morna juntos ,
Ela vasculhou os cantos e omitiu-se,
Ele não mentiu, mas não se envolveu de vez.


Mereciam-se, escondiam-se, recolhiam-se e encolhiam-se,
Murchos, secos, gastos,  foscos e desgraçados,
Seguiam andando pra trás, de marcha ré, de costas e às cegas,
Os anjos cantaram e os deuses abençoaram aquela desunião.




quarta-feira, 25 de agosto de 2010

céu

Eu quis experimentá-lo, manipulá-lo delicadamente,
Não poupei mãos, boca,lingua, coxas, peitos e pernas,
Fui agregando sensações e sutilezas àquele instante,
Ele foi aceitando meus toques singulares e penetrantes,
Sem qualquer restrição ou embaraço sujo,
Apostamos e ansiamos sem precariedades por tudo aquilo,
Momentos de gratificações, silêncios e abraços,
De beijos longos e quentes, que me fizeram revisitar o passado,
Trocamos palavras, roupas, gestos, carinhos e segredos,
Pusemos nossos corpos entregues lado a lado,
Fomos guiados por nossos cheiros,fomos nos aceitando,
Devagar, sem pressa e com fogo de dois amantes,
Os movimentos eram densos e vigorosos, criamos laços,
Laços,mas não relacionamento, nada organizado,
Tudo com extravagância, interação e alinhamento; porém,
Sem bases, garantias ou seguranças,
Dividimos, massageamos, falamos, rimos e trepamos.


O céu existe!


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ela III

Não era forte, não era rico nem pobre,
Não fazia o tipo dela, não lia filosofia,
Não tinha porte, não divagava nem sentava no divã,
Mas reconheceu-a  como a fêmea que sempre fora.

Fêmea que tivera que esconder-se pra (sobre)viver 
E ela desfez-se em mulher na frente dele,
E ela derreteu-se, ele lambuzou-se dela,
Ele trouxe na mala única, o presente.


Nem passado nem futuro, só presente,
O presente do delírio e do prazer,
Do prazer de sentir-se na carne,
Mulher no ato e não de fato.

O tom pausado e sussurrado da voz dele,
Quase não a deixava ouví-lo, ela adivinhava,
Os pensamentos e querências daquele homem,
Que a fez borbulhar num espumante ritmado.



Ela não podia falar dele, mas sabia seu nome,
Ele podia falar, mas desconhecia o nome dela,
Ele é o segredo dela do mundo,
E ela é ela pra ele.